Pensar num cine-teatro que desapareceu no tempo é mergulhar numa narrativa de nostalgia e melancolia, onde cada elemento estrutural conta uma história silenciosa do passado. O Cine-Teatro da Portela | Cinema Sintra, originário da década de 40 e devoluto desde os anos 90, foi outrora um palco de risos, lágrimas e momentos mágicos. Hoje, evoca um eco distante da vida que um dia pulsou ali, e neste vazio físico ressoam os ecos de filmes icónicos que transportaram o público para além da tela, abrindo as vistas da imaginação. Muito se especulou sobre os alicerces do que poderia ter sido, e gradualmente o edifício tornou-se um espectro na paisagem urbana, despertando a curiosidade de arquitetos e sonhadores que vislumbravam a sua ressurreição como um espaço revitalizado, adaptado aos tempos modernos sem perder a aura nostálgica que o define.

Este projeto de reabilitação e valorização do Sintra Cinema foi vencedor do concurso público promovido pela Câmara Municipal de Sintra e reflete o nosso compromisso com a preservação do património e a criação de espaços culturais inovadores. Sintetiza-se em três gestos fundamentais: identidade, organização e espaço público; e ambiciona ser um epicentro urbano, uma 'máquina de habitar' inclusiva, que celebra a vida cultural e social esperada numa comunidade contemporânea. Preservamos a essência do edifício modernista original do Estado Novo e adaptamo-lo às exigências contemporâneas, mantendo presente a urgência e o dever de promover uma compreensão ampla do nosso património.

O novo edifício renasce com base na nostalgia cinematográfica e na memória coletiva da cidade. Destacamos a nova sala na cobertura, cuja forma evolui de uma janela em semicírculo para uma janela retangular na fachada posterior, ajustando-se para complementar as relações com a envolvente sem desvirtuar a força do objeto pretendido. Metaforicamente, o semicírculo representa um gesto de inclusão e acolhimento, simbolizando um fluxo contínuo de ideias e experiências dentro do espaço construído, que nos sugere a convergência das memórias passadas do edifício e das que estão por vir. É também ele a nossa homenagem aos princípios estéticos da arquitetura modernista.